Play that funky music, white boy

Pra não dizer que não falei de posts: resenha do Whitest Boy Alive para a @rollingstoneBR. Foto é da fofa da Thais Gouveia.

O show ainda acontece no Studio SP, em um domingo à noite, quando o líder do Whitest Boy Alive, Erlend Øye, sai correndo em direção à rua. A figura que de tão branca e comprida lembra um palmito fantasiado de fã do Weezer precisa “de ar puro”, como repete para cada pessoa que insiste em pará-la no meio do caminho. Por dois minutos, Øye troca a superlotada casa noturna pela vida selvagem da rua Augusta. Recosta-se sob uma fachada, deixando as meias (uma verde, uma vermelha) à mostra, as canelas tão grossas quanto espaguete.

Não são as trabalhadoras da Augusta que passam por ali e lhe lançam olhar de “pague para ver” que assustam o norueguês. Øye parece abalado. Precisa dar um tempo, quer “um pouco de ar fresco, só isso”, mas todos que lhe reconhecem não dão sossego. “Ótimo show, cara!” “Posso apertar sua mão?” “Meu deus, vocês estão enlouquecendo as pessoas lá!”

E estavam mesmo. Pouco antes, Øye, metade do duo acústico Kings of Convenience, fazia do Studio SP algo que, se camisa xadrez (como a do vocalista) fosse sinônimo de abadá, seria a mais perfeita tradução de micareta indie. As pessoas pulam em sincronia, se acotovelam para caber num espaço que parece dois números menor (mas, ao contrário das folias nababescas lideradas por Ivete Sangalo e Claudia Leitte, o clima de pegação é rarefeito).

Corta para o começo do show: por volta das 22h, duas horas depois do horário marcado, sobem ao palco o norueguês Øye (vocal e guitarra), o polonês Marcin Oz (baixo) e os alemães Sebastian Maschat (bateria) e Daniel Nentwig (teclado). “Keep a Secret”, o abre-alas do novo álbum do Whitest Boy Alive, Rules, também serve para abrir a noite. Desde já, fica clara a sintonia entre o público e aquele rapaz com aparência de ex-estrela infantil de comerciais da Benetton e jeito de dançar tão engonçado como uma gazela solta nos prados.

O som do Whitest Boy Alive faz jus ao nome da banda: soa como uma ginga toda própria do último menino branquelo no mundo. Se na gravação parece um retrato em sépia da música dance, o repertório cresce muito ao vivo. Não chega a ser funk ou eletro, apesar de obviamente emprestar características dos dois. Está mais para um dance minimalista, tão gentil (sem contudo falhar em deixar sua marca) como o frontman.

Øye, um fã da música brasileira das antigas (para ele, a produção atual não presta muito), é o destaque, mas não absoluto. Para tocar músicas como “Golden Cage” e “Fireworks”, do recente álbum e de Dreams, a estreia, o norueguês revezou holofotes com os outros 75% do quarteto. O tecladista Daniel – que, com suas regatas brancas e bigode à Freddie Mercury, lembra um F5 do mágico Doug Henning, esta figura bizarra, bastante popular nos Estados Unidos dos anos 70 – é o mais empolgado. Em “Burning”, trepa na caixa de som e surfa sem mar. Quando erra em “Intentions”, Øye interrompe e recomeça. Acha que o público merece o melhor que o Whitest Boy Alive tem para dar (nada mais justo: os ingressos, afinal, não saíram por menos de R$ 100, a meia-entrada, e houve quem oferecesse o triplo disso para entrar no show lotado).

Antes de terminar o show (com set que vai de “Courage” a “1517”), Øye sai à procura do “ar puro” na Augusta, deixando a plateia aos cuidados de jam session dos colegas de banda. Lá fora, ele reforça a imagem de alguém que preserva simpatia e rabugice em igual medida. Não quer saber de ninguém, mas ao mesmo tempo é doce demais para dar o fora nos que se aproximam para cumprimentá-lo. Passa a imagem de gênio atormentado: não consegue deixar de fazer o que acaba drenando dele muita energia.

De certo, Øye não é alguém que vá quebrar a guitarra no palco, trazer o apocalipse ao quarto de hotel ou confundir groupies com serviço de quarto. Também está longe do messianismo de Brandon Flowers, o rockstar mórmon do Killers. A sensação que Øye transmite, tanto no palco como fora dele, é a de alguém que vive em dimensão à parte – e, embora seguro de sua música, nunca vai entender direito o que fez para merecer aquela horda indie balançado o corpo como se fossem todos eles os últimos branquelos vivos.

Tem ainda o vídeo que o Boghob fez de “Gravity”:

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